9:13pm - 31/01/03

baile com ela

mal posso andar, o meu corpo treme tanto
e me sinto vagar, deslizar nas calçadas
não me permito chorar, nem o mais ínfimo pranto
pois sei serem muitas as gotas salgadas

gostaria de saber espanhol por alguns minutos
para escrever isto com o som de um bailado
gostaria de ter em meu bolso mais alguns putos
para ter o filme, passado algum tempo, completo decorado

no estômago uma ânsia que me sobe a garganta
eu insisto contra e rabisco, respirando fundo
o enjôo não cede e animada a tontura se planta
feito o opióide vegetal que dopa o doente moribundo

tenho as sensações aguçadas e entorpecida a carnadura
fraco o voluntário, indetível o inevitável
peito estufado, apertado pela hemorrágica candura
emoção ferida, continência inviável

vômito indeciso, asco persistente
agora eu me derramo, quem sabe passa
ao que molha, a pele quente sente
bom sinal: ainda vive a libidinosa devassa

mas e como não, se ainda amalgama
certeza e contradição
se acha que é dama
de nojo e tesão

de dia na rua
índigo cobertor
de noite já nua
incolor sem-pudor

sou só uma amadora que se encanta
com fios de amor na tela grande
e vez ou outra, para uma moça, cose manta
e a enrola e ameiga tal qual a uma infante

sou só o amor que à poetisa se mostra
só a percepção que à poetisa se lança
a insatisfação que tanto desgosta
quem resvala e desgraça o poema que dança

</codeína nikélika>

---

::: voltar :::



all content by me unless otherwise stated.
layout's conception by amzeratul and codnik.