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9:01-10:29am - 24/01/03
lenda poética
então é vc que vai me ferir sem me matar
estender a corda sobre o eixo singular
pra me estrangular; vc só vai dizer
que eu vou morrer. me apavorar, para o seu prazer
vai assistir meu desespero e esmagar a minha fé
me jogar num tubo de sangue com uma pedra amarrada ao pé
vc não quer só que eu afunde e sem ar sufoque
que o pescoço rasgue ou que ele se quebre. vc me quer em choque
ver lágrimas nos meus olhos, a expressão vazia
me trancafiar pra rezar dentro de alguma abadia
pelos meus pecados que somente a vc causam agonia
mas sua decisão, sinto dizer, foi um tanto tardia
deveria ter me prevenido de nascer e experimentar
cortado minha língua antes da idéia se sublimar
depois que me lambuzei da saliva que eu babei
o babador se empapa é do suor que transpirei
então desista agora de me eliminar
não vai me encontrar em um único lugar
a minha palavra se dissipou para o mundo contornar
não adianta obstruir a minha circulação
eu tenho muitas veias que não alcança a perfuração
as suas agulhas não podem envenenar a minha razão
e se a minha bomba parar pelo seu zurzir
se cessar no meu corpo o audível zuir
eu não serei estatística, dado matemático
é melhor ser muito cético
do que muito dogmático
patético é não recorrer a método zetético
desde já eu deixo dito
vc não conseguirá que eu me renda
existirei na boca alheia e não serei mito
serei uma lenda.
</codeína nikélika>
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a idéia veio de um sonho.
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